Argentina limita venda de repelentes em supermercados em meio à epidemia de dengue
Pouco mais de três meses após a eliminação dos controles de preços, o Governo da Argentina decidiu avançar com uma regulamentação específica para o mercado de repelentes, em meio a um dos piores surtos de dengue da história do país. Numa reunião com as principais empresas do setor, o secretário do Comércio informou a decisão de revogar a regra de Fidelidade Comercial que proíbe os supermercados de limitarem a venda de produtos. A determinação estabelece que, enquanto a epidemia de dengue não diminuir, será definida uma cota de duas unidades por família.
O Governo afirma que a limitação já está sendo imposta pelos supermercados, que apresentam poucas unidades de repelente em comparação à demanda elevada das últimas semanas. As lojas já aplicam medidas semelhantes para limitar a venda de alguns produtos com altas taxas de venda, como óleos ou leite.
A decisão de limitar a venda de repelentes foi comunicada pelo secretário de Comércio, Pablo Lavigne, aos representantes das principais empresas fabricantes: SC Johnson (Off!, Fuyi, Raid), Algabo (Vais) e Queruclor (Akthiol). A Unilever também participou do encontro, embora tenha praticamente abandonado a categoria no ano passado, quando deixou de produzir sua marca LivOpen.
— Foi uma reunião em bons termos em que explicamos aos responsáveis que não há produção suficiente quando a procura se multiplica seis ou oito vezes. É algo que não víamos nos últimos 20 anos — reconheceu o representante de uma das empresas que participaram do encontro, ao La Nacion.
Matéria-prima importada
Na reunião com as autoridades do Comércio, as empresas também se comprometeram a agilizar a importação de DEET, principal componente para a produção de repelentes. Esse insumo não é fabricado em território argentino, sendo importado da China ou do Japão pelas fabricantes.
Normalmente, a importação de DEET é realizada em navios e toda a operação — desde a realização do pedido até a liberação do produto na Alfândega de Buenos Aires — leva entre 60 e 90 dias. Com a situação dramática do mercado local, as empresas começaram a importar o insumo por via aérea nas últimas semanas.
— Os custos por avião são multiplicados por três, mas também não é uma operação que possa ser feita da noite para o dia. Fazendo a logística por via aérea, a importação demora cerca de dez dias — explicou outra empresa.
Escassez nas prateleiras
Lojas do setor de supermercados garantiram ao La Nacion que, nos últimos dias, as vendas de repelentes, comprimidos, inseticidas e spray se multiplicaram por três ou quatro, e a oferta disponível nas lojas não é suficiente.
Pelos próximos 30 dias, o Governo decidiu retirar obstáculos à importação de repelentes devido à elevada procura e à falta de estoque nas farmácias e lojas. A administração de Javier Milei anunciou, através de um comunicado, que os produtos ficarão isentos da cobrança de Imposto sobre Valor Agregado (20%) e da retenção de Imposto de Renda (6%).
Epidemia
Desde julho de 2023, o país enfrenta um aumento constante dos casos da doença. Até agora, mais de 180 mil pessoas foram infectadas, e 129 morreram. Segundo as autoridades, há mosquitos circulando com dengue em 19 dos 24 territórios do país.
De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pelo país, os casos registrados nos últimos meses são equivalentes a mais de seis vezes o volume da temporada de 2022/2023. Não há um programa nacional de vacinação, apenas iniciativas em alguns territórios, onde, muitas vezes, os pacientes precisam pagar pela dose.
Mercado consolidado
O mercado de repelentes é controlado pela multinacional SC Johnson, que participa desse negócio com diferentes marcas e apresentações como Off (aerossóis e creme), Fuyi (aerossóis e comprimidos) e Raid (comprimidos). A participação da empresa gira em torno de 80% do mercado.
Até ao verão passado, a principal ameaça à liderança de Johnson era outra multinacional, a Unilever, que chegou no mercado em 2017 com o lançamento do LivOpen, que nesta temporada desapareceu das prateleiras.
Após a saída da Unilever, duas empresas nacionais disputam o segundo lugar em vendas. Uma delas é a Algabo, que recentemente se fortaleceu no ramo de higiene e limpeza e participa da categoria de repelentes com a marca Vais. A outra é a Queruclor , empresa nacional que também possui Querubín, Odex e Palmolive, que participa da categoria de repelentes com a marca Aktiol.
Criatividade argentina
A falta de produtos também explica o surgimento de marcas menores e desconhecidas do grande público, como Doc Uffa — produzida pela tinturaria Otowil — Poff e Puff (não confunda, são duas marcas diferentes), Fush! e Basta Mosquito.
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